terça-feira, 29 de setembro de 2015

Jornal i #36 - Não a um Papa político

Houve momentos na História recente em que os líderes da Igreja tiveram um papel fundamental no curso da Humanidade. Ninguém nega a importância de Eisenhower e Pio XII, ou Reagan e João Paulo II, no combate ao comunismo enquanto ameaça clara ao Cristianismo e ao mundo Livre.

A suprema ironia é termos hoje um Papa que escolheu como bandeiras políticas – não teológicas – algumas das que são erigidas por Obama e que têm na sua fundamentação o mesmo gene das doutrinas comunistas. Na encíclica pró-verde “Laudato Si” Francisco surge como o mais recente aliado da crença nas alterações climáticas e na necessidade de salvação do planeta. Há uma diferença significativa entre a defesa da Ecologia e uma instrumentalização do Apocalipse como forma de combate ao capitalismo. A Ecologia dignifica o homem, responsabiliza-o pela utilização dos recursos, e convida-o a salvaguardar o planeta em prol das gerações futuras; é obrigação do Homem colocar o seu engenho para encontrar as formas mais eficientes de utilizar os recursos do Planeta, fomentando o bem-estar de todos, os de hoje e os do amanhã. Já o eco-fanatismo parte de uma crença não comprovada cientificamente, combatendo o modelo económico que inspira o nosso modo de vida, como forma de evitar a Morte iminente do planeta.   

O Papa Francisco escolheu para marcar a sua visita aos EUA toda uma série de causas políticas – emigração, clima, capitalismo, combate às desigualdades – que o colocam de um dos lados da barricada em matérias onde existem enormes clivagens ideológicas, afastando as atenções mediáticas dos temas de índole espiritual onde a Igreja precisa de dar repostas. O Papa tem as suas opiniões políticas; como Católica posso duvidar delas. Preferia ter de Francisco mais respostas espirituais, já que não me parece que um dueto Francisco/Obama consiga salvar o mundo do Apocalipse.  

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Jornal i#36 A "botonização" das emoções no Facebook


"Parece que Zuckerberg está a estudar a possibilidade de introduzir um botão “não gosto” no Facebook. Mas não será um botão que vote contra as atualizações dos outros porque não é esse o “tipo de comunidade que queremos”, esclareceu o multimilionário. Será um botão para expressar “empatia”, “uma maneira rápida de mostrar emoção”. Mas a empatia parece algo estranho a butonizar: “tem x gostos e y empatias”. Soa estranho, não?

A comunidade que Zuckerberg quer atingiu este Verão os 1,49 mil milhões de utilizadores. Além do aspeto quantitativo, essa comunidade – o modelo de negócio do Sr. Zuckerberg – não é, ao contrário do que se lê ao subscrever, “grátis” e o valor que cada um de nós paga é elevadíssimo: são dados pessoais (fotografias, textos, vídeos, localização, etc.) e preferências emocionais.

Na ampla e confortável comunidade que Zuckerberg quer  a interação humana reduz-se a uma botonização ingénua de emoções que, ainda por cima, se querem rápidas, fugazes, momentâneas, pouco rigorosas e pouco reais. Esta questão cósmica foi notícia a semana passada e reflete bem os nossos tempos, de igualitarismo afetivo, de padronização de gostos, de emoções fungíveis, de imediatismo, de intolerância à reflexão e à contemplação. Existirão ainda emoções verdadeiras ou apenas adjetivos extraordinários, como dizia O. Wilde? A existirem, as grandes emoções, arrebatamentos, mágoas, dores intensas, and so on, são destruídos, aniquilam-se, pela sua própria plenitude e, portanto, não são suportadas por botões. É essa, a meu ver, uma das regras que rege o mundo real e resta-me acrescentar que o senhor Zuckerberg está de acordo comigo."







segunda-feira, 21 de setembro de 2015

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

insignificante partícula de vida

quando mudamos de cidade, de casa, de hábitos, de vida em geral, há qualquer coisa que fica no meio, in between, a pasmar no fluir do tempo. Chamar-lhe-ei uma "insignificante partícula de vida", à deriva, no Cosmos. Mas desconfio que a sua verdadeira natureza se prende com esta dupla existência e, a confirmar-se, talvez não seja assim tão insignificante.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Jornal i #35 A demagogia da esquerda no tema da emigração

Publicado no jornal i, de hoje:


Foi recentemente editado pela Bertrand um estudo intitulado “Fuga de cérebros. Retrato da emigração qualificada portuguesa”, do qual destaco 2 conclusões: (i) este tipo de emigração aumentou ao longo da última década, registando uma taxa de crescimento de 87,5% entre 2001 e 2011; e (ii) os destinos são Reino Unido, Alemanha e França. Ora essa, então a emigração massiva não se tinha iniciado com a chegada da Troika? Afinal, este movimento fez já parte da época em que os socialistas desgovernaram Portugal, entre 2005 e 2011. Pelo que podemos concluir que a retórica da emigração é mais uma marca demagógica da esquerda com Alzheimer e do imediatismo com que analisa a realidade.

Parte da emigração recente, qualificada, é uma consequência inevitável do ajustamento mas uma certa higiene política deveria levar a que o PS tivesse o pudor de não atacar aquilo que é uma consequência da sua desgovernação e seria bom que vissem além do óbvio. É que chega a ser esquizofrénico: os mesmos que nos integraram na Moeda Única, que celebraram Tratados Europeus, que fomentam a liberdade de circulação, que alimentam desde tenra idade o contacto com redes universitárias, programas Erasmus, ensino reconhecido com Bolonha, são incapazes de separar aquilo que é o efeito natural da globalização nos fluxos migratórios, a existência de um mercado profissional global altamente competitivo, a atração inevitável dos centros urbanos mais cosmopolitas, daquilo que são as causas específicas do nosso atraso relativo face ao mundo mais evoluído.

A circulação no espaço global veio para ficar. A minha geração dispensa políticos “calimero”, mas precisa de políticos que em vez de falirem constantemente o país se preocupem em fazer de Portugal um país estruturalmente atrativo para a geração qualificada, com menos fardo para as gerações futuras, com uma Segurança Social geracionalmente equilibrada, com menos impostos e menos dívida. Se fizerem isso, nós faremos a nossa parte.





coisas que nos espantam a alma



Nessun Dorma

domingo, 6 de setembro de 2015

num dia de Abril

"Num dia de Abril, a seguir ao almoço, o meu marido anunciou-me de repente que queria deixar-me. Fê-lo enquanto levantávamos a mesa, as crianças brincavam como de costume numa divisão ao lado, o cão sonhava entre rosnidos junto ao aquecedor. Disse-me que estava confuso, a viver momentos difíceis de cansaço, de insatisfação, talvez de fraqueza. Falou muito dos nosso quinze anos de casamento, dos filhos, e admitiu que não tinha acusações a fazer-nos, nem a eles, nem a mim. Manteve uma atitude comedida, como sempre, à excepção de um gesto exagerado da mão direita ao explicar-me, com um esgar infantil, que ouvia certas vozes quase imperceptíveis, uma espécie de sussurro, que o impeliam a ir-se embora. Depois, assumiu a culpa de tudo o que estava a acontecer e fechou cuidadosamente a porta de casa atrás de si, deixando-me petrificada ao pé do lava-louças. 

Elena Ferrante, Crónicas do Mal de Amor, p. 135

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Em defesa da UE na crise dos refugiados




"(...) A imprensa tem colocado a questão como sendo uma crise humanitária que o Ocidente, em concreto a Europa, deve resolver e aparentemente não o tem conseguido fazer. Mas será que, mais do que criticarmos a Europa, não deveríamos enfatizar o papel generoso e a sua atuação altruísta na integração de refugiados e emigrantes ao contrário de muitos países islâmicos – com a exceção dos países fronteiriços com a Síria naturalmente incapazes de erguer fronteiras – que se limitam a criar barreiras, fechando-se, para que essas pessoas lá não cheguem? Por outro lado, a Europa não tem culpa de um problema que é um dos mais antigos da História da Humanidade nem lhe devemos exigir que, com uma varinha mágica, o resolva. A imagem daquela criança morta toca-nos profundamente, o desejo de a socorrer corre-nos no ADN, o ímpeto é fazer qualquer coisa, mas o que seja essa coisa é secundário e, para alguns, vai desvanecendo com o passar do tempo. Não seriamos humanos se não sentíssemos um espasmo de choque; mas a responsabilidade da morte da criança não é culpa da Europa mas, isso sim, de Assad ou do ISIS(...)"


O texto completo, aqui

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Jornal i#34: Porque vos escrevo*?

Hoje, para o jornal i:

"A 4/10 temos eleições e sinto que é o meu dever alertar para todas os desaires que marcam o meu percurso enquanto candidato e que refletem o desnorte do PS. Como autarca fazia isto todos os dias na reunião da câmara e na rua. Mas na campanha nacional é mais difícil, eu não estava habituado, por isso decidi ter uma conversa convosco através desta carta depois de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas o terem feito.

O primeiro fator foi a minha postura aquando da vitória do Syriza: um “sinal de mudança que dá força para seguir na mesma linha”. Recentemente, tentei dar a volta confessando uma “identidade” com uma antiga líder de um “partido de direita ultra liberal”, mas era “tarde demais para vencer a depressão, a descrença e a resignação a um sentimento de decadência do PS  e reconstruir um sentimento de esperança coletiva”.

Segundo, a respeito da polémica dos cartazes, havia “duas opções de fundo em confronto”: o nosso modelo de invenção de histórias de vida inexistentes e o anterior modelo de promessa de 150 mil empregos. Abdicando do segundo – executado depois de fazermos as contas novamente para chegarmos à conclusão de que, desta vez, podíamos prometer mais – optámos pelo primeiro.

Terceiro, porque temos de “virar a página da austeridade para relançar a economia, criar emprego de qualidade e com futuro” apresentei um cenário macro económico que só posso apresentar, hoje, graças ao trabalho da coligação PàF. Em 2011 seria, obviamente,  impossível depois de tantos anos de governação socialista.

Por hoje é tudo, vou comer um hamburger com a minha Fernanda, até amanha."


*Este texto corresponde a uma adaptação à primeira carta de António Costa aos “indecisos”.