domingo, 22 de dezembro de 2019

A máquina inteligente de nível humano (MINH)*: quando?

Uma das grandes referência desta área, Nils Nilsson, que escreveu inúmeros livros sobre inteligência artificial, incluindo a historia das investigações nesta área, defende que há 10% de probabilidade de esta máquina surgir em 2030, 50% de probabilidade de surgir em 2050 e 90% de probabilidade de surgir em 2100.

O Filósofo Nick Bostrom, no seu livro Superinteligência (p. 47), chega a uma conclusão semelhante: "pode, apesar de tudo, acreditar-se que a MINH tem uma boa probabilidade de aparecer até meados do século, mesmo sendo igualmente possível que surja relativamente mais cedo ou mais tarde". 

*É uma máquina capaz de exercer a maior parte das profissões humanas pelo menos tão bem como um ser humano.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

A autonomia individual no digital

A convite da Oficina da Liberdade escrevi para o Observador sobre um tema difícil, atual e que merece a reflexão de todos nós:

"Longe vão os tempos do famoso cartoon da New Yorker onde se lia “on the internet nobody knows you’re a dog”. A realidade de hoje é muito diferente: não só é possível saber quem é o internauta, como, entre outros detalhes, quem são os seus familiares e amigos, onde vive e onde trabalha, a sua música favorita, os seus interesses e preferências, onde passou e fez pagamentos. Mas além da perda de anonimato, visões mais ou menos catastrofistas salientam, entre outros, os riscos da crescente perda de autonomia de quem “vive” intensamente o digital. São os casos, entre outros, do austríaco Max Screhms, ativista e fundador da NOYB (None Of Your Business), que em 2018 convidei para palestrar numa conferência da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, e que ganhou notoriedade com a litigância – bem sucedida – contra a exportação de dados pessoais da Europa para os EUA, levada a cabo pelo Facebook; ou de Shoshana Zuboff, cuja obra mais recente, “Capitalismo de vigilância”, em qualquer caso, mais se assemelha a uma crítica ao capitalismo do que propriamente ao problema da vigilância.

Parte da desconfiança que legitimamente formamos face ao digital, e recorrendo a uma descrição quiçá exageradamente simples, reside na opacidade da estrutura e dos participantes responsáveis pela mediação entre o internauta e a informação que procura ou, dito de outra forma, na ausência de conhecimento e de controlo sobre o ambiente onde o internauta compra, lê, forma a sua opinião, discute ideias, enfim, passa uma boa parte do seu dia-a-dia. Nem é necessário recorrer a um episódio da série Black Mirror para explicar o que está em causa, já que a realidade, em algumas situações, consegue ser bastante mais criativa do que a própria ficção, como ocorreu  com o caso Cambridge Analytics: através do preenchimento de um inquérito ou da realização de um “teste psicológico”, proposto apenas a eleitores criteriosamente selecionados nas respetivas páginas de Facebook, milhares de pessoas, sem o saberem, transmitiram informação sobre si a terceiros desconhecidos que, posteriormente, a utilizaram para influenciar as posições políticas dos inquiridos e de terceiros que com eles se relacionavam. Já uns anos antes, em 2013, as revelações de Edward Snowden haviam dado a conhecer ao mundo métodos semelhantes para a atuação dos serviços de informação dos EUA, mas também de alguns países europeus.

Mas engane-se quem pensar que os riscos do digital se esgotam nas redes sociais e na Internet em sentido estrito. Basta pensar nas consequências do sistema de créditos sociais Chinês, implementado, por exemplo, em Rongcheng, que penaliza o cidadão que assuma comportamentos tidos como socialmente negativos, como serão, entre outros, a passagem de um sinal vermelho, fumar na rua, ouvir música demasiado alto no comboio, ou escrever sobre censura e corrupção do governo. O cidadão prevaricador passa a ter um rating social negativo, que pode conduzir a que não possa, por exemplo, marcar um bilhete de avião ou de comboio, comprar uma casa ou ter acesso a crédito. Não é reconhecida, neste sistema, qualquer via de recurso para o cidadão.  A informação é compilada a partir da combinação de um big brother formado por câmaras de videovigilância, aplicações de inteligência artificial com o reconhecimento facial, e feeds de informação diversa, recolhida na internet.

Dir-me-ão que na Europa e nos EUA dificilmente chegaremos a este ponto. Não deixa, contudo, de haver sinais preocupantes, como os que nos são dados pela França, onde o Presidente Macron pretende criar um sistema de identidade digital através do reconhecimento facial, proposta que está a gerar bastante controvérsia. Nos EUA a sociedade civil e a classe política — dos dois lados do espetro partidário — criticam a utilização desta tecnologia na atividade das polícias e na autenticação de identidades. Em Portugal a sociedade civil deverá pensar estes temas, sobretudo se quer proibir estas e outras aplicações tecnológicas, ou se haverá formas de “racionalizar” a sua utilização.

As soluções legislativas tradicionais, sobretudo assentes numa lógica de gestão de riscos, nem sempre são as mais eficazes no seu garantismo, ao que acresce uma impossibilidade fática do legislador em acompanhar, no tempo e no espaço, a evolução da tecnologia em geral. Em todo o caso, a Europa tem-se dedicado bastante a pensar soluções normativas , seja através de legislação da União Europeia como o Regulamento Geral de Proteção de Dados ou de iniciativas mais recentes como a do Conselho da Europa sobre a inteligência artificial. A chamada “auto-regulação”, com maior ou menor participação legislativa, também se assume como uma ferramenta importante, em especial na perspetiva das empresas e dos setores tecnológicos que querem preservar o bom nome, reputação e alimentar a confiança do consumidor. Mas é na sociedade civil, na sua ação de fiscalização, e nas literacias digitais, ou seja, nos comportamentos individuais de cada um, que reside grande parte da salvaguarda face aos perigos do digital. É fundamental combater a iliteracia digital do cidadão comum que, por exemplo, nunca ouviu falar de uma VPN, ou que acriticamente fornece dados e informação, em troca de serviços tidos como “gratuitos”. Neste campo, a comunicação social tem um papel muito relevante a desempenhar, destacando a esse título, o excelente “The Privacy Project”, do New York Times, com conteúdos atualizados diariamente. Uma sociedade civil informada sobre os riscos do digital fará de todos nós consumidores mais exigentes, mais informados e verdadeiramente livres nas escolhas que fazemos no nosso dia-a-dia."

P.S.: o cartoon não é da New Yorker, é do New York Times.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

o autismo da pós modernidade

"(...) social media have made experts of know-nothing, who spread their opinions framed as expertise via Facebook, Twitter and Instagram. During a hurricane, suddenly everybody is a hurricane expert; during Supreme Court ruling, SCOTUS experts come out of the woodwork. Name the topic or occasion, and people are eager to make their voices heard weighing in with passion and force. Whether or not they are well-informed or simply spouting run-of-of-the-mill opinions heard from their friends or neighbors, social media gives them a forum and level playing field. Modern media activity is less about consuming, and more about producing. In a world where everyone is a content creator, and everyone thinks he or she has an audience, no one wants to listen. Instead, people want to hear themselves talk, and actively look through the increasing number of likes, comments, and shares as evidence that they're being listened to".

Daniel R. Rubin e Nathans H. Rubin, Boomers to Millennials. Moving America Forward, 2018, p. 71 e 72

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

carros autónomos

"Part of the problem with assessing  [Tesla's] Autopilot, or fully autonomous technology for that matter, is that it isn’t clear what level of safety society will tolerate. Should robots be flawless before they’re allowed on the road, or simply better than the average human driver? “Humans have shown nearly zero tolerance for injury or death caused by flaws in a machine,” said Gill Pratt, who heads autonomous research for Toyota Motor Corp., in a 2017 speech. “It will take many years of machine learning, and many more miles than anyone has logged of both simulated and real-world testing, to achieve the perfection required.”"

Mais aqui.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

o futuro do trabalho

Are computers with general intelligence close at hand?
People have been asking questions like this ever since the beginning of the field of artificial intelligence in the 1950s. And for the last 60 years, the answer has been about 20 years in the future. Is it theoretically possible that his time they'll be right? Yes, it's theoretically possible. But I think we should be very skeptical of anyone who confidently predicts that we'll have human-level artificial intelligence any time in the next few decades. It's easy to overestimate the potential of artificial intelligence because it's easy to imagine machines that are as smart as people. It's a lot harder to build such machines than imagine them.

What does this mean for the future of work? 
I think a lot of people are more worried than they need to be about the problem of computers taking away jobs. Automating jobs will probably take longer than people expect. People also forget about delays in implementation. Even if we had today a perfect human-level general AI computer in the lab at MIT, how soon do you think that would take over all the jobs in the world? Tomorrow? Next week? Next year? No, it would take decades, even if we had the complete technology today. One of the interesting thinks about markets, as superminds, is that they're very resourceful, very creative at figuring out new ways of employing resources. It's very easy for us to imagine the jobs we know disappearing, and much harder for us to imagine the jobs that don't even exist yet. But just because it's harder to imagine them, doesn't mean they won't exist.

Entrevista a Thomas W. Malone, Professor de Gestão @ MIT Sloan School of Management, Iese Business School Insight, Fall 2018, p. 28.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

revisão

depois de ver o fim de Orange is the New Black sou levada a considerá-la a segunda melhor série de sempre (um dia, com vagar, explico porquê):

1. Os Sopranos;
2. Orange is the New Black;
3. The Wire.


sexta-feira, 19 de julho de 2019

terça-feira, 9 de julho de 2019

Nigéria

"A Tia Ifeoma escreve à Mãe e a mim. Escreve sobre os tomates enormes e o pão barato. Acima de tudo, escreve sobre as coisas de que tem saudades e pelas quais anseia, como se ignorasse o presente para viver no passado e no futuro. Às vezes, as cartas dela são enormes, até a tinta ficar esborratada e eu perder o fio à meada do que ela quer dizer. Há quem pense, escreveu ela uma vez, que não nos podemos governar a nós próprios, porque das poucas vezes que tentámos, falhámos, como se todos os outros países que se autogovernam hoje em dia tivessem acertado à primeira tentativa. É como dizer a um bebe que está a gatinhar, a aprender a nadar, e que cai, para nunca mais se mexer. Como se os adultos que o rodeiam não tivessem gatinhado também um dia".

Chimamanda Ngozi Adichie, A cor do Hibisco, p. 357 e 358.

segunda-feira, 18 de março de 2019