Nos seus versos, Camões deixou claro que “amor é fogo que arde sem se ver”. Entretanto, o tempo passou, a vida aconteceu, e o fenómeno (sinceramente, não sei qual o melhor adjetivo) dos “amores plurais” ou do poliamor terá obrigado o poeta luso a usar o plural ou a revisitar a sua perceção. Será?Eu explico: leio na “Visão” que “o interesse romântico e/ou sexual por mais de uma pessoa é um dilema que a monogamia ainda não resolveu”. A minha pergunta imediata é: mas devia? Só mesmo um Camões da pós-modernidade poderá responder a esta inquietação.
E por falar em poesia, aposto que o leitor não sabia que a nossa burocrata e cinzentona Bruxelas, nos idos anos 80, inspirada pela chaminha burocrática e estatista, no Regulamento 1591/87, conseguiu a proeza de dedicar 5371 palavras a couves-repolho, couves-de-bruxelas, aipos e espinafres. Perdão, o “Daily Express” especifica: 5 mil palavras dedicadas a couves-repolho e as demais 371 às restantes leguminosas mencionadas - uma façanha inédita quando comparada com textos tão profundos como o discurso de Gettysburg, de Abraham Lincoln, com 271 palavras, ou mesmo os dez mandamentos, com apenas 297. Repolhos e aipos exigem mais prosa, pois claro. Mas não é só a extensão da prosa: há que concretizar, especificar, complicar. Veja-se o caso dos pepinos, regulados no Regulamento n.o 888/97 da Comissão de 16 de maio de 1997, que podem ser “ligeiramente recurvados” (mas apenas “ligeiramente”) e ter uma altura máxima de arco de 20 mm por 10 cm; ou a noção, delimitada de forma sofisticada e colossal, de batata nova ou primor, recentemente transposta para o decreto-lei n.o 14/2016. Já agora, a pergunta: acha que os agricultores são atordoados pelo excesso de regulamentação e de exigências europeias?
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