terça-feira, 22 de agosto de 2017

passar à pergunta seguinte

"Já era quase de noite e estava muito mais frio. Via as linhas recortadas do pico do Mont Blanc, os seus pináculos e fendas recheadas de neve. Um monte enorme, escuro e presente, mas nada como uma presença humana. Era um monolítico de dúvida.
   Pode-se pensar e repensar uma pergunta, o objetivo da espera, a questão de saver se há um objetivo, se vai aparecer uma pessoa, mas se a pessoa não vem, não há ninguém nem nada que responda.
   É noite. Ouço um pequeno grupo de homens chamarem-se uns aos outros em alemão, vejo-os a passar, os pompons dos barretes de esqui a abanar, a neve fresca a ranger sob as suas botas.
   Foram-se embora. O vento assobia no meio das árvores, os ramos flutuam para cima e para baixo com uma elegância lenta, selvagem.
   Estou sozinha na base da pista, quase gelada para me mexer.
   A resposta não chega.
   Tenho de encontrar um ponto arbitrário dentro do período de esperam a ausência em aberto, e arrancar-me dali.
   Partir, sem resposta. Passar à pergunta seguinte."


Rachel Kushner, Os Lança-Chamas, p. 357

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