Publicado, ontem, no jornal i. E na próxima terça-feira repete-se; e na outra, e na outra...Sejam bondosos e aturem-me.
A vontade de mudar o mundo sempre foi reflexo de uma juventude mimada e revoltada por ter de arrumar o quarto ou de cumprir os mínimos, ao nível da higiene, para uma vida em comunidade: os membros dos movimentos dos 60, em comum, tinham o quarto desarrumado e um sovaco afirmativo. Entre os jovens utópicos, nas profundezas do pensamento sobre ideias inatingíveis, não sobra tempo para a vida individual. Compreendo que um semiburguês “Caetana, faça a sua cama” ou um suburbano “Cajó, esfrega-te atrás das orelhas” soe a fascismo paterno. No meio do quotidiano, onde fica a justiça social? E o combate ao neoliberalismo? Ao escrever recordo Christian, personagem do livro “A procura do Amor”, de Nancy Mitford, um comunista que “vivia nas nuvens” e, quando descia à terra, dissertava sobre um tema, monótona e repetidamente, como um atirador impreciso, eternamente condenado à incapacidade de acertar no alvo.
A marcha do tempo não parou: o mur(r)o de Berlim não caiu bem à esquerda ortodoxa, a juventude lá adoptou novas causas, mais ou menos fracturantes, mais ou menos nobres, e o fundamentalismo religioso ganhou terreno entre os filhos das sociedades ateístas. E eis a suprema ironia: o jovem jihadista, nas fileiras do EI, necessita de um iPod, mas mantém a teimosia em não fazer a cama ou lavar tachos. Enquanto luta, em nome de Alá, contra o Ocidente, grita por Steve Jobs, o iDeus que o irá salvar. A guerra está materialmente ganha quando estes meninos não abdicam da manifestação mais óbvia do Ocidente: o estilo de vida dos infiéis.
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