Ontem, para o i,
Ainda estou à espera da reação da esquerda e dos sindicatos, pelo menos, a esta instigação à exploração do proletariado, mas estou cada vez mais convencida de que a indústria da indignação é muito seletivaEm 2011, todos ouvimos as palavras de Passos Coelho sobre a emigração de professores. As reações, imediatas, foram de indignação: o primeiro-ministro (PM) estava a apontar a porta da rua à juventude. Rapidamente foi criado o Grupo de Protesto dos Professores Contratados e Desempregados, o poeta Alegre fez uns versos de pé quebrado, na televisão o comentador Marcelo criticava Passos por cometer “um erro grave” porque o PM “não pode convidar as pessoas a migrar” e Mário Nogueira, então mero sindicalista, imediatamente convocou mais uma manif para reivindicar o direito a obrigar o PM a emigrar. A semana passada, António Costa, entre sorrisos e beijinhos, repetia o “apelo” de Passos sobre a emigração de professores; porém, o dito grupo não apareceu, o outrora poeta nada declama, Marcelo comentador reencarnou como Presidente da República e Mário Nogueira é agora mandante do ministro da Educação e, por isso, “vê um significado diferente” nas declarações de Costa.
Dias depois, o ministro das Finanças explicava a vantagem competitiva do país a uma plateia de empresários: os portugueses são os que mais horas trabalham na Europa (apenas o setor privado, acrescentaria eu) e até são baratinhos. Portanto, para o senhor ministro, a precariedade é a nossa vantagem. Ao que parece, a plateia não ficou persuadida: o indicador do Banco de Portugal para medir a atividade económica atingiu um valor negativo em maio (o que não acontecia desde agosto de 2013) e, depois de uma nota de investimento do Commerzbank e do relatório anual do Mecanismo Europeu de Estabilidade, eis que somos brindados com a atualização trimestral sobre a economia portuguesa da Moody’s.
Ainda estou à espera da reação da esquerda e dos sindicatos, pelo menos, a esta instigação à exploração do proletariado, mas estou cada vez mais convencida de que a indústria da indignação é muito seletiva.
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