Esta semana, para o i,
Na semana passada, o tema do multiculturalismo voltou ao debate público europeu. “O véu que cobre toda a face tem de ser proibido, onde for legalmente necessário”, disse Angela Merkel, arrancando aplausos e galvanizando os militantes da União Democrata Cristã reunidos no congresso do partido. Esta promessa, em inícios de campanha eleitoral, conhece precedentes europeus como a França e a Bélgica (2011), e algumas cidades italianas e espanholas que legislaram nesse sentido.
Dias depois, uma reportagem do canal France 2, filmada em Paris e Lyon, mostrava bairros em plena França onde as mulheres são “indesejadas” em vários locais públicos. A jornalista acompanha duas mulheres que ocultam uma câmara no momento em que ousam entrar num café, para surpresa e espanto dos homens que o ocupam em regime de exclusividade e que rapidamente lhes perguntam ao que vêm. Segue-se uma discussão na qual um dos indivíduos explica que aquele é um território dominado por “mentalidade diferentes”.
Mesmo que a Europa se vá, aos poucos, libertando da ortodoxia do multiculturalismo, pergunto-me se será possível corrigir o resultado da aplicação das suas regras. No lugar de uma coexistência pacífica de diversidades, da tolerância em relação ao “outro”, o que vemos surgir é a imposição de uma “mentalidade” que gera um conjunto de particularismos geográficos, sociais, culturais e religiosos absolutos e que não reconhecem a diferença. “Les territoires perdus de la République”, ouvimos na reportagem. Acrescentemos à França Antuérpia e Bruxelas e aí estão os primeiros territórios perdidos da Europa, uma Europa em tempos retratada como cultural e espiritualmente una.
Sem comentários:
Enviar um comentário