Hoje para o i,
Álvaro Santos Pereira, Maria Luís Albuquerque, Rui Machete, Nuno Crato e Paula Teixeira da Cruz. São cinco nomes, numa lista muito incompleta, de alguns dos ministros aos quais o BE dirigiu um pedido de demissão, num passado não muito distante, acusando-os justamente de mentir ao parlamento e aos portugueses.
Bom, o PCP sempre foi menos comedido e momentos houve em que pediu a demissão de todo o executivo. Uma simples pesquisa no Google confirma-o. O que faz o nosso primeiro-ministro? Mantém total confiança política e remata a questão para canto: afinal, tudo se trata de uma “trica”. Como se o escrutínio que à oposição se exige, com toda a legitimidade democrática e constitucional, fosse uma futilidade circunstancial.
Melhor teria andado se encomendasse um novo código de conduta ou anunciasse uma comissão para estudar a ontologia da mentira na pós-modernidade. Quanto ao nosso Presidente da República, limito-me a dizer o que já foi escrito neste jornal: “Há um papel, sr. PR.” É inevitável que a falta de credibilidade de Mário Centeno contagie o nosso chefe de Estado e acentue a sensação de orfandade à direita que já se fazia sentir.
Já não espanta que, enquanto apoiantes do atual governo, BE e PCP adotem uma postura passiva, contrária à agressividade demonstrada no passado. Porém, não deve passar despercebida a aceitação, por um partido comunista e outro trotskista, das reivindicações de um banqueiro ou da elaboração, por um escritório de advogados, de uma lei à sua medida.
O episódio da CGD anuncia uma nova esquerda em Portugal: uma esquerda menos guerrilheira, uma esquerda complacente com os “esquemas” do Estado de consultadorias externas e comprometida com a promiscuidade entre o setor privado e o setor público – aspetos que sempre denunciou.
Com estas concessões de ordem “prática” (para não chamar outro nome), a base do seu discurso ideologicamente cerrado sai, naturalmente, fragilizada. Este é um elemento que não deve ser ignorado num momento de grande preocupação social com a ascensão de “populismos” na Europa.
Há boas razões para acreditar que os fracassos das promessas comunistas e, em geral, o desgaste da velha retórica moralista à esquerda, bem como o esvaziamento ideológico que lhe subjaz, criaram o espaço de manobra que permitiu a ascensão, por exemplo, da Frente Nacional, que colhe votos junto de eleitores comunistas e socialistas. Isto dito, não antevejo um movimento semelhante no nosso país, mas este episódio tornou evidentes as debilidades (políticas e éticas) dos partidos à esquerda também por cá.
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