O número terá já ultrapassado os mil milhões em termos mundiais e, em Portugal, uns 4,7 milhões. Refiro-me, naturalmente, aos utilizadores do Facebook (FB). Apesar deste impressionante sucesso, a invenção de Mark Zuckerberg tem muitos fregueses descontentes que sucessivamente lhe apontam problemas e críticas: uns dizem que explora o narciso em cada um de nós, outros que cria um “enxame”, um conjunto de pessoas que, através da facilidade da comunicação digital, constitui uma praga que opina constantemente e insulta sem qualquer espécie de travão moral para consumo universal. Há ainda quem diga que as redes sociais, e o Facebook em particular, extinguiram o lugar dos agentes mediadores, essenciais numa sociedade democrática, madura e civilizada, e quem discorde da manipulação e censura das opiniões e notícias nos trends e feeds que o algoritmo constrói. Por fim, há também o problema da devassa, da privacidade e da disponibilização das nossas informações pessoais às autoridades estatais.Talvez por esta acumulação de críticas, o jornal inglês “The Guardian” declarou 2016 como o ano em que o FB se tornou um bad guy.
Mas a esta nobre cartilha de críticas acrescenta-se agora um dado novo: o manifesto publicado por Mark Zuckerberg, em 16 de fevereiro deste ano, na sua página pessoal. Em 5700 palavras, o CEO do FB sintetiza o futuro idílico de uma comunidade mundial transformada pelas redes sociais. Alterações climáticas, terrorismo, guerras, pobreza, desigualdades sociais: Zuckerberg tem um plano que expôs com uma admirável capacidade de síntese (quase 6 mil palavras!), para construir aquele que, na sua perspetiva, parece ser o futuro adequado para todos nós. Naturalmente, este curto texto tem um significado imediato: o reconhecimento de que aquilo que era, até então, uma infraestrutura de comunicação, de abertura e conectividade das pessoas passa a ser, assumidamente, um veículo de transformação e modificação da vida social, tal como a conhecemos, para a criação de uma nova “infraestrutura social” para a “comunidade global”.
Ou seja, Zuckerberg propõe-se mudar o mundo usando o FB. Faz, então, parte do passado a ideia de que a tecnologia nos controla: é Zuckerberg que se assume como o protagonista, o grande líder, desse domínio. Por outro lado, a mensagem de um bilionário que se arroga a pretensão de falar em nome de todos, propondo uma reconstrução da humanidade baseada na sua própria visão, no seu quadro de valores, na sua axiologia, sobre como deve ser o futuro, mais não é do que uma aberração política e democrática disfarçada de declaração de responsabilidade social ou de cartilha de boas intenções.
Qualquer comparação deste manifesto com o discurso de uma miss Universo é profundamente injusta e, sobretudo, ingénua, pelo que me parece que a mensagem do CEO do Facebook é para levar a sério, com algum espanto e preocupação.
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