O meu texto de hoje para o jornal i:
Leio D. F. Wallace e sinto uma certa admiração. Wallace enfrentou os seus fantasmas e, passo a passo, desceu ao inferno. O resultado foi brilhantemente entregue em “O Rei Pálido”, romance obrigatório dedicado ao tormento contemporâneo do tédio.
As dissertações sobre o tema variam entre melancolia, ennui, taedium vitae, depressão e tudo o que explique o sentimento de desassossego, tão familiar a Pessoa, defensor da “dignidade do tédio”. Tudo parece recuar a Blaise Pascal: a alma é vazia e, nunca satisfeita, recorre a estratégias de sobrevivência para lidar com o quotidiano.
Em “Boredom”, Peter Toohey aborda o assunto declarando “there is no such thing as boredom”: o tédio é a máscara que esconde uma constelação de desconfortos, físicos e psicológicos. Toohey analisa posturas e olhares em imagens, e é assim que justifica que Victoria Beckham tenha sido considerada uma das personalidades mais sequinhas do Reino Unido. Nas imagens, Victoria, surge invariavelmente com uma expressão facial blasé, vazia de emoção. A expressão facial é sempre humana, demasiado humana.
Não era necessário recorrer a Beckham, como prova de que os belos (duvidoso neste caso…) e abastados sofrem dessa angústia. Antonioni tratou o tema. Em “A Noite” diz-nos, baixinho, ao ouvido, no desenrolar da cena final em que Lídia e Giovani, de costas para nós, de costas para o mundo, portanto, cristalizam um casal que vive entre o tédio e a inquietação ligado pelo desconforto de um silêncio gasto. E como esquecer Vitttoria, em “L’eclisse”, que se questiona ce pasione de cosa?
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