Gosto de finais assim, realistas. Girls, season 4, ep. 10.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
terça-feira, 26 de maio de 2015
Jornal i #24 Socialismo de rabo na boca
Hoje, para o jornal i,
Na semana passada, enquanto o Dr. João Tiago
Silveira pregava o “projeto” de programa do PS, imagino não ter sido a única a
contar as vezes que ouvi “mais”. E a simples consulta ao documento confirma: no
PS é tudo mais exceto os impostos. O dinheiro cai do céu ou da Europa, mesmo
ali, no Largo do Rato.
Nos últimos tempos, o PS surge tal qual a personagem da
anedota do Titanic, que não sabe para que bote se lançar, e depois de patinar
num cenário macro económico que lhe permite aspirar a uma luta pelo eleitorado
do centrão, decide recorrer à velha falácia socialista de que não estamos a
fazer o suficiente para alcançar uma “justiça social”, uma “justiça
económica" e, então, propõe 21 “causas” e outros tantos “mais”.
A explicação é sociológica: tradicionalmente, a esquerda vive
animada por um ardor perpétuo de indignação e, para alimentar o “progresso”,
sabota-se não permitindo que os seus objetivos sejam alcançados. Imagine um
jogo de futebol, que termina assim que o primeiro golo seja marcado, em que
nenhuma das equipas mostra interesse em ganhar, preferindo jogar num eterno
empate que não leva ao apito final. Assim, a esquerda, recorre a uma amálgama
de causas e de protestos associados a definições indeterminadas e a chavões não
mensuráveis, garantindo que tudo está por fazer. Chegada ao poder depara-se com
uma situação pior do que calculava, tendo de desenvolver novo plano,
necessitando de tempo, sendo demitida quando acaba o dinheiro, ou a paciência,
nunca concluindo o projeto inicial de desenvolvimento da sociedade perfeita. E
estamos de volta ao início do texto, estimados leitores.
segunda-feira, 25 de maio de 2015
domingo, 24 de maio de 2015
o truque
"Clara Ferreira Alves: A atenção extrema é uma qualidade dos infelizes e dos solitários. Quando se está muito entretido não se vê nada em volta.
Michel Houellebecq: Isso é muito certo. Quando se observa a vida das pessoas é preciso não estar a pensar na nossa. Não estou certo de que seja uma questão de solidão ou infelicidade. O essencial é não estar demasiado preocupado com as coisas pessoais. E não ter muitas preocupações. Coisas práticas para resolver. Chatices. Para ser uma espécie de observador neutro não se pode estar enfiado em si mesmo. (...)"
Entrevista ao autor de "Submissão", no Expresso do dia 23 de maio de 2015.
sábado, 23 de maio de 2015
terça-feira, 19 de maio de 2015
jornal i #23 Constança
Hoje, para o jornal i:
Passaram 5 anos, Constança entra na universidade. Tem hoje 20 anos e prepara-se para uma entrevista que a ajudará a pagar o seu curso. Sonha ser professora. Detesta “filmes de ação”, corre durante a alvorada três vezes por semana, organiza com etiquetas os tupperwares e duas vezes por semana troca as flores do beiral da janela. Vota à direita e diz, frequentemente que, um dia, quando tiver uma filha, quer chamar-lhe Luísa, em homenagem à sua mãe.
Passaram 5 anos, Constança entra na universidade. Tem hoje 20 anos e prepara-se para uma entrevista que a ajudará a pagar o seu curso. Sonha ser professora. Detesta “filmes de ação”, corre durante a alvorada três vezes por semana, organiza com etiquetas os tupperwares e duas vezes por semana troca as flores do beiral da janela. Vota à direita e diz, frequentemente que, um dia, quando tiver uma filha, quer chamar-lhe Luísa, em homenagem à sua mãe.
Chega o momento da entrevista, entra nervosa, mas a sorrir para o mundo. A gerente de recursos humanos, do hipermercado, olha para aquele rosto fresco e recorda-se do vídeo “viral” que correu Portugal em 2015 e que também ela partilhou no facebook. "Foi você?" Atira a entrevistadora de unha vermelha e rabo-de-cavalo loiro. Com a testa franzida e a boca entreaberta, Constança responde que sim. Seguem-se umas perguntas de circunstância e Constança é avisada de que voltarão a contactá-la. Com os olhos ardendo e um aperto no peito, vai-se embora.
Noutro tempo, a cena a que assistimos naquele vídeo “viral” ficaria guardada nalguma gaveta da memória de meia dúzia de pessoas e, com o tempo, desvanecia, como feliz ou infelizmente, tudo desvanece. Desde o início dos tempos, para nós humanos, esquecer tem sido a norma e recordar a exceção. Tudo mudou com as possibilidades da memória digital que eterniza uma Constança que já não existe cuja identidade foi construindo e evoluindo ao longo dos tempos. Constança será, hoje, diferente de si mesma há 5 anos. E isso, caro leitor, deve ser respeitado por todos nós.
sexta-feira, 15 de maio de 2015
apertão
De vez em quando, lá vem mais um apertão, pelo facebook de um amigo, de outras latitudes, que tem a distinta lata de escrever "it's just nice to be here". Lucky bastard.
quarta-feira, 13 de maio de 2015
o rosto de Bergman
Compreendo a escolha da leveza (e, escusado dizer,beleza), desse instante de graça, captado na fotografia escolhida para o cartaz do festival de Cannes. Seria a mais adequada se Bergman apenas tivesse filmado Casablanca (1942), de Michael Curtiz. Mas Bergman filmou com Hitchcock: A Casa Encantada (1945), Difamação (1946) e Sob o Signo de Capricórnio (1949). E mais: Bergman fez filmes e filhos com Rossellini, a malandra.
Por isso, quando se trata da Senhora Ingrid , esta fotografia, tirada por Gordon Parks, no intervalo das filmagens de "Stromboli" (1950), é a minha escolha, porque esta não é uma diva qualquer: é uma diva enigmática. Comparando todas as outras, umas mais stars, outras menos, contemporâneas ou não, não passam de maus exemplos.
terça-feira, 12 de maio de 2015
jornal i #22 O esquerdismo de Game of Thrones?
Hoje, para o i:
A vida não está fácil para quem gosta de “Game of Thrones” (GoT) e milita à direita. Descobri que GoT, série pop fiction, da HBO, promove ideias esquerdistas. Oh, Deus, e eu que passei tantas horas prostrada diante do ecrã perdida nos decibéis de “A Song of Ice and Fire”, do George Martin. Mas era óbvio, eu é que não queria ver, o revivalismo marxista está patente na forma crua como nos é apresentado o mundo feudal, com um cheirinho ao estilo revolucionário de mudar o mundo, do “começo do fim”.
Não invento, a análise histórico-materialista da série foi objecto de dois ensaios: “Can marxist theory predict the end of Game of Thrones?”, de P. Mason, no “Guardian”, e “Game of Throne and the End of Marxist Theory”, de S. Kiss, na Jacobin Mag, com enfoque no colapso do feudalismo. Basicamente, antevê-se um final em que um sistema velho e injusto se torna obsoleto em face de várias ameaças às instituições que sustentam as classes altas, mas o povo, esse, está unido por uma força secreta. Pressente- -se uma mudança de paradigma, rumo à “República do Povo de Westeros”, e a marcha da história parece condenar os temíveis Lannister. Os indícios são vários: a personagem de Arya Stark, rebelde e emancipada, o esgotamento das minas de ouro, anunciado por Tywin, na 4.a temporada, a dívida dos Lannister ao Banco de Ferro, etc. Mas o mais óbvio vem do Sul, cavalgando, voando e conquistando, Daenerys Targaryen, a Messias, liberta, por onde passa, escravos oprimidos com os seus irritantes beiços (de Emilia Clarke, entenda-se) e os seus dragões domesticadinhos.
A relação desta série com a realidade é, digamos, problemática. Mas o marxismo e o socialismo são acometidos pela mesma patologia, na qual “realidade” é um conceito fantástico, mesmo ficcional, e algo ingénuo.
domingo, 10 de maio de 2015
do esforço social
"Não sou muito bom nas situações sociais, mas quando estou nelas tento ser agradável e fazer tudo o que é esperado de mim, tento agradar aos outros. Depois, venho-me embora e já não quero saber de nenhuma daquelas pessoas"
Entrevista a Karl Ove Knausgard, por Cristina Margato, in E. A revista do Expresso, do dia 9 de maio de 2015
sábado, 9 de maio de 2015
afinidades (mínimas) com Orlando de Carvalho
"Os anos de preparação do Doutoramento (...) [são] particularmente
dolorosos, não só pela magreza dos dinheiros mas também pela exigência de
rigor que (...) [elegi] como paradigma científico. (...) [Pertenço, felizmente] a
uma raça de homens que abominam a solércia do bluff fácil e fútil com que,
principalmente nas ciências humanas, cada vez é mais comum, e mais socialmente rendoso, passar gato por lebre e ganhar fama de ilustre. Sem a esperança de que alguém algum dia contabilize o que investimos em esforço, em
leitura, em meditação, em reflexão, pois não só a audiência especializada é
muito estreita como não deixa de padecer frequentemente – em terra em que
todos cultivam o seu arrátel de glória – de emulação parcimoniosa e malévola."
Oração do Senhor Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Direito, Doutor ORLANDO DE CARVALHO, BFDUC, Vol. LXVIII, Coimbra, 1992: (1-478): [421-424]
quinta-feira, 7 de maio de 2015
por estes dias
Crescer não é, ainda assim, profundamente desgostante. Entre
outras coisas, aprende-se a viver com fantasmas. Não falo só das almas do outro
mundo mas de coisas do antigamente. A meio de uma conversa, ao virar da
esquina, em certas datas, damos de caras com um ou outro fantasma que julgámos
que com o tempo não ia durar. Às vezes, em casa, batem-nos à porta. Por estes
dias abri a porta e deixei entra uma imagem de há coisa de um ano, de um
momento que vivi com a minha mãe.
Esperava-a, em Coimbra, num átrio de um consultório médico, virada de costas para a porta de onde ela sairia. Quando saiu, permaneci por alguns segundos quieta, antes de me virar e de a encarar; seguiu-se um silêncio pesado, pesadíssimo. Quando a reencontrei, a forma de mulher que se parecia com a da minha mãe vacilava; abriu a boca e, numa voz cansada mas com a meiguice de mãe que faz eco até ao fim do mundo, até mim, até hoje, os olhos vidrados e tomados de uma névoa – a mesma dos retratos antigos –, bocejou “más notícias”. Tenho a impressão de que estas palavras penetraram a circulação das minhas veias, e que através delas, seguindo o corpo, aquela Senhora tocou, como ninguém antes o tinha feito, no meu coração de carvalho. A verdade é que não me caiu uma única lágrima mas lembro-me de pensar em várias coisas. Entre elas, curiosamente, uma frase de Niels Lyhne que li algures, entre tantas outras, “seja como for, é bom ter um Deus a quem dirigir lamentos e orações”.
Esperava-a, em Coimbra, num átrio de um consultório médico, virada de costas para a porta de onde ela sairia. Quando saiu, permaneci por alguns segundos quieta, antes de me virar e de a encarar; seguiu-se um silêncio pesado, pesadíssimo. Quando a reencontrei, a forma de mulher que se parecia com a da minha mãe vacilava; abriu a boca e, numa voz cansada mas com a meiguice de mãe que faz eco até ao fim do mundo, até mim, até hoje, os olhos vidrados e tomados de uma névoa – a mesma dos retratos antigos –, bocejou “más notícias”. Tenho a impressão de que estas palavras penetraram a circulação das minhas veias, e que através delas, seguindo o corpo, aquela Senhora tocou, como ninguém antes o tinha feito, no meu coração de carvalho. A verdade é que não me caiu uma única lágrima mas lembro-me de pensar em várias coisas. Entre elas, curiosamente, uma frase de Niels Lyhne que li algures, entre tantas outras, “seja como for, é bom ter um Deus a quem dirigir lamentos e orações”.
terça-feira, 5 de maio de 2015
jornal i #21 O diário de António Costa
Texto publicado hoje, para o jornal i
25 de abril de 2015, de cravo ao peito como todos os “Homens
de Abril”, depois de um dia pleno de magníficos discursos entre sonoros vivas e
urras à Liberdade, António Costa, a pensar na sua autobiografia, chega a casa,
pega na pena e acrescenta no seu “Diário das Legislativas”:
“Querido diário, saberás que, em tempos, a política foi um exercício digno, próprio de gente séria e culta. Hoje, a coberto de egos insuflados apoiados na confusão entre liberdade de expressão e imunidade de vigarizarão, essa ocupação – sim, a política não é uma profissão! – é degradada por desqualificados incapazes de terem uma opinião e de discutirem as dos outros e que têm de recorrer à promessa vã e reles para preencher o espaço anteriormente preenchido por ilustres. Mas quem sou eu para jugar o caráter de quem nem conheço?
Como não tenho tempo para me confessar, escrevo estas linhas para não criar ilusões a mim próprio. O teu, sempre, António Costa”
Seriam estas as linhas de um homem moralmente corajoso e intelectualmente articulado? Provavelmente. Costa não é nada disso. Por isso, em vez de as escrever, enviou um vergonhoso SMS a um jornalista, cuja opinião divergia da sua, procurando disfarçar a sua enorme insegurança com a sua minúscula superioridade moral. Nestes tempos pós modernos, de medo e incerteza, os políticos de carreira são seres particularmente vulneráveis, apenas equiparáveis a divas de Hollywood.
“Querido diário, saberás que, em tempos, a política foi um exercício digno, próprio de gente séria e culta. Hoje, a coberto de egos insuflados apoiados na confusão entre liberdade de expressão e imunidade de vigarizarão, essa ocupação – sim, a política não é uma profissão! – é degradada por desqualificados incapazes de terem uma opinião e de discutirem as dos outros e que têm de recorrer à promessa vã e reles para preencher o espaço anteriormente preenchido por ilustres. Mas quem sou eu para jugar o caráter de quem nem conheço?
Como não tenho tempo para me confessar, escrevo estas linhas para não criar ilusões a mim próprio. O teu, sempre, António Costa”
Seriam estas as linhas de um homem moralmente corajoso e intelectualmente articulado? Provavelmente. Costa não é nada disso. Por isso, em vez de as escrever, enviou um vergonhoso SMS a um jornalista, cuja opinião divergia da sua, procurando disfarçar a sua enorme insegurança com a sua minúscula superioridade moral. Nestes tempos pós modernos, de medo e incerteza, os políticos de carreira são seres particularmente vulneráveis, apenas equiparáveis a divas de Hollywood.
41 anos depois
de abril e da sua apropriação pela esquerda, continuam a aparecer bons
exemplares da arrogância esquerdista. Não é de estranhar: Costa deseja um mundo
ordeiro, onde todas as vozes falam com igual tom e igual conteúdo, sem discordar
do grande líder. Para o caso, faltou-lhe em elegância e eloquência o que
lhe sobrou em arrogância e mau gosto. Para os portugueses, de resto, fica
certeza, de que esta gente não aprendeu nada, o que seria patético se não fosse
trágico.
segunda-feira, 4 de maio de 2015
domingo, 3 de maio de 2015
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