terça-feira, 5 de maio de 2015

jornal i #21 O diário de António Costa

Texto publicado hoje, para o jornal i


25 de abril de 2015, de cravo ao peito como todos os “Homens de Abril”, depois de um dia pleno de magníficos discursos entre sonoros vivas e urras à Liberdade, António Costa, a pensar na sua autobiografia, chega a casa, pega na pena e acrescenta no seu “Diário das Legislativas”: 
 
      “Querido diário, saberás que, em tempos, a política foi um exercício digno, próprio de gente séria e culta. Hoje, a coberto de egos insuflados apoiados na confusão entre liberdade de expressão e imunidade de vigarizarão, essa ocupação – sim, a política não é uma profissão! – é degradada por desqualificados incapazes de terem uma opinião e de discutirem as dos outros e que têm de recorrer à promessa vã e reles para preencher o espaço anteriormente preenchido por ilustres. Mas quem sou eu para jugar o caráter de quem nem conheço? 
Como não tenho tempo para me confessar, escrevo estas linhas para não criar ilusões a mim próprio. O teu, sempre, António Costa” 
 
       Seriam estas as linhas de um homem moralmente corajoso e intelectualmente articulado? Provavelmente. Costa não é nada disso. Por isso, em vez de as escrever, enviou um vergonhoso SMS a um jornalista, cuja opinião divergia da sua, procurando disfarçar a sua enorme insegurança com a sua minúscula superioridade moral. Nestes tempos pós modernos, de medo e incerteza, os políticos de carreira são seres particularmente vulneráveis, apenas equiparáveis a divas de Hollywood.

        41 anos depois de abril e da sua apropriação pela esquerda, continuam a aparecer bons exemplares da arrogância esquerdista. Não é de estranhar: Costa deseja um mundo ordeiro, onde todas as vozes falam com igual tom e igual conteúdo, sem discordar do grande líder. Para o caso, faltou-lhe em elegância e  eloquência o que lhe sobrou em arrogância e mau gosto. Para os portugueses, de resto, fica certeza, de que esta gente não aprendeu nada, o que seria patético se não fosse trágico.

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