terça-feira, 12 de maio de 2015

jornal i #22 O esquerdismo de Game of Thrones?


Hoje, para o i:


A vida não está fácil para quem gosta de “Game of Thrones” (GoT) e milita à direita. Descobri que GoT, série pop fiction, da HBO, promove ideias esquerdistas. Oh, Deus, e eu que passei tantas horas prostrada diante do ecrã perdida nos decibéis de “A Song of Ice and Fire”, do George Martin. Mas era óbvio, eu é que não queria ver, o revivalismo marxista está patente na forma crua como nos é apresentado o mundo feudal, com um cheirinho ao estilo revolucionário de mudar o mundo, do “começo do fim”.

Não invento, a análise histórico-materialista da série foi objecto de dois ensaios: “Can marxist theory predict the end of Game of Thrones?”, de P. Mason, no “Guardian”, e “Game of Throne and the End of Marxist Theory”, de S. Kiss, na Jacobin Mag, com enfoque no colapso do feudalismo. Basicamente, antevê-se um final em que um sistema velho e injusto se torna obsoleto em face de várias ameaças às instituições que sustentam as classes altas, mas o povo, esse, está unido por uma força secreta. Pressente- -se uma mudança de paradigma, rumo à “República do Povo de Westeros”, e a marcha da história parece condenar os temíveis Lannister. Os indícios são vários: a personagem de Arya Stark, rebelde e emancipada, o esgotamento das minas de ouro, anunciado por Tywin, na 4.a temporada, a dívida dos Lannister ao Banco de Ferro, etc. Mas o mais óbvio vem do Sul, cavalgando, voando e conquistando, Daenerys Targaryen, a Messias, liberta, por onde passa, escravos oprimidos com os seus irritantes beiços (de Emilia Clarke, entenda-se) e os seus dragões domesticadinhos.

A relação desta série com a realidade é, digamos, problemática. Mas o marxismo e o socialismo são acometidos pela mesma patologia, na qual “realidade” é um conceito fantástico, mesmo ficcional, e algo ingénuo.

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