Hoje, para o jornal i:
“Ainda não se sabia o resultado final do referendo grego e já Catarina Martins bradava pela “solidariedade europeia” no cenário de vitória do “não” que abre portas a uma “nova Europa”. E, entenda-se, a vitória do “não” é no sentido de “não a mais austeridade e sim a mais dinheiro”.
É caricatural, no mínimo, falar-se em solidariedade que, segundo a elementar Wikipédia, mais não é que um acto de bondade para com o próximo, uma situação de cooperação mútua entre duas ou mais pessoas.
Este conceito de solidariedade europeia, accionado pela esquerda sempre que há um Estado-membro fragilizado por irresponsabilidade própria, torna-se ridículo se pensarmos que se está a referendar o produto de um acto de bondade e ainda mais ridículo é que o referendo incida sobre a vontade do beneficiário desse acto.
Portanto, o referendo deveria ser alargado a todos os povos europeus que, num acto de solidariedade (com um cariz algo compulsivo, diga-se), emprestarão mais dinheiro à Grécia.
O que responderiam os europeus a: “Está disposto a aumentar a sua carga de impostos para ajudar a Grécia?” ou “Concorda com o perdão da dívida grega?” Aí sim, poderia verdadeiramente falar-se de uma “nova Europa”, mais democrática.
Por outro lado, a santidade da democracia directa, neste contexto, é bastante fragilizada quando em causa está a preservação do vínculo a entidades como a União Europeia ou a zona euro, cujo grau de complexidade e lógica burocrática tem vindo a agravar-se.
Ou seja, poderá um referendo reflectir a vontade de um povo de ser parte de uma organização cujos contornos não conhece? Até que ponto não estará o Syriza a aproveitar-se da assimetria informativa dos gregos, expressa numa irracionalidade decisória?”
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