Há sítios dos quais todos queremos guardar distância. Ou porque nos trazem más recordações, ou porque nos trazem boas recordações (“nunca voltes a um sítio onde foste feliz”) ou porque não têm características que nos agradam (beleza, luz, serenidade, temperatura) ou por qualquer outra razão, racional ou emocional.
A vida, contudo, impiedosa como é no assalto, por vezes parece que escolhe as horas em que nos sentimos mais indefesos para nos levar aonde não queremos. O IPO é um desses sítios onde, indefesos, somos forçados a entrar. Paradoxalmente é também lá que, todos os dias, vários voluntários dedicam horas da sua vida ao o sofrimento de terceiros, sem a interferência do Estado, sem serem forçados, num ato de caridade pura.
Eu não acredito que Catarina Martins alguma vez tenha entrado num IPO. E ainda bem. Mas, de agora em diante, se for, deveria corar de vergonha depois de afirmar que o trabalho voluntário é uma “treta” que só pode existir quando houver pleno emprego. Bem vistas as coisas, compreendo a afirmação: é que Catarina Martins não reconhece uma manifestação de generosidade praticada em liberdade, nascida da iniciativa individual, voluntária e interior de cada um de nós; para Catarina Martins a solidariedade tem de acontecer através de um intermediário, o Estado, e por vezes com recurso à coação, ao pagamento de impostos. Para Catarina Martins a sociedade ideal é aquela em que a ajuda, o auxílio, a assistência é exclusivamente tarefa do Estado (a “solidariedade social”), sem reconhecer o importantíssimo papel que a Sociedade Civil e a Família devem ter. Nessa sociedade, Catarina Martins censura o trabalho de todas as IPSS que, nos últimos anos, têm ajudado várias famílias a sobreviver; nessa sociedade, existe pleno emprego, o que é da responsabilidade exclusiva do Estado. Nessa sociedade...essa sociedade não existe. Quem é que Catarina Martins quer enganar?
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