Em entrevista ao “Expresso” no último fim de semana, a deputada do Bloco de Esquerda (BE) Mariana Mortágua, veio anunciar-nos aquilo que já todos sabíamos, que este “não é um governo de esquerda”. Jerónimo de Sousa, na festa do Avante, concorda.
De facto, é cada vez mais difícil perceber, afinal, o que é isso do socialismo. É certo que não falta no PS e no BE quem pratique um discurso inflamado de um socialismo impoluto: que a prática governativa diariamente corrompe. Depois de uns meses de namoro ao PCP, feitos à base de presentes caros (pagos pelos contribuintes, sobretudo as famílias da classe média), como a reposição dos salários na função pública e as reversões nas privatizações, o PS foi aplicando com mestria uma série de medidas que as embevecidas noivas à esquerda, ainda inebriadas com o glamour do devoto consorte, fingem não ver. Socialismos à parte, a Geringonça tem vindo a construir toda uma nova semântica ao que pensaríamos ser o conceito indeterminado a que os políticos dão o nome de “justiça social”, essa musa inspiradora supostamente património absoluto da esquerda.
A política portuguesa percorre mares nunca antes navegados. Vivemos os tempos do iSocialismo. Quantos de nós pensariam ser possível assistir, num só ano, e sem protestos do PCP e do BE, à aplicação de medidas que poderiam ter sido emanadas de uma deliberação do FMI? Senão vejamos: na avaliação de imóveis para efeitos de IMI, o sol passou a pesar mais, por elementares razões de ... “justiça social”.
Na luta contra a pobreza, a Troika da Geringonça, dá menos aos mais pobres como foi o caso dos aumentos das pensões inferiores a 628€, no final do ano passado; o PS propôs ainda um aumento de 0,60 cêntimos para pensões de 200€ e de quase 2 € para as pensões de 628€. Este é o governo que implementou cortes que não foram necessários nem nos anos mais duros de austeridade, como foi o caso do Imposto Único de Circulação para pessoas com deficiência acima dos 60%. “Afinal não deu golpe”, e o nosso governo de imediato declarou estar disponível para trabalhar com o Presidente Temer.
No caso do BANIF, foi surpreendente a rapidez não hesitante e a submissão com que o Executivo assinou, em nome dos portugueses, um cheque de milhares de milhões, que ajudaram a rechear os cofres dessa instituição caritativa-não-capitalista que dá pelo nome de Banco Santander. Mas a cereja no topo do bolo foi colocada na CGD: um novo Conselho de Administração – ironicamente, totalmente composto por homens, com pedigree no grande capital financeiro – apresentou um plano de reestruturação que prevê despedir (!) milhares de trabalhadores, e que já mereceu criticas da Comissão de Trabalhadores do banco público. Sim, estamos a falar de um ... “downsizing”, que faria corar Marx de vergonha. Pelo caminho, e a propósito do IMI, ainda tivemos a oportunidade de ver o PCP defender, qual latifundiário, a sua propriedade privada, acumulada com suor e lágrimas, num discurso de meritocracia a fazer lembrar o Uncle Sam e o “American Dream”.
Antes assim, socialistas sem socialismo. Para experiências falhadas de socialismo real, já nos bastam os relatos e imagens que nos chegam da Venezuela.
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