terça-feira, 22 de setembro de 2015

Jornal i#36 A "botonização" das emoções no Facebook


"Parece que Zuckerberg está a estudar a possibilidade de introduzir um botão “não gosto” no Facebook. Mas não será um botão que vote contra as atualizações dos outros porque não é esse o “tipo de comunidade que queremos”, esclareceu o multimilionário. Será um botão para expressar “empatia”, “uma maneira rápida de mostrar emoção”. Mas a empatia parece algo estranho a butonizar: “tem x gostos e y empatias”. Soa estranho, não?

A comunidade que Zuckerberg quer atingiu este Verão os 1,49 mil milhões de utilizadores. Além do aspeto quantitativo, essa comunidade – o modelo de negócio do Sr. Zuckerberg – não é, ao contrário do que se lê ao subscrever, “grátis” e o valor que cada um de nós paga é elevadíssimo: são dados pessoais (fotografias, textos, vídeos, localização, etc.) e preferências emocionais.

Na ampla e confortável comunidade que Zuckerberg quer  a interação humana reduz-se a uma botonização ingénua de emoções que, ainda por cima, se querem rápidas, fugazes, momentâneas, pouco rigorosas e pouco reais. Esta questão cósmica foi notícia a semana passada e reflete bem os nossos tempos, de igualitarismo afetivo, de padronização de gostos, de emoções fungíveis, de imediatismo, de intolerância à reflexão e à contemplação. Existirão ainda emoções verdadeiras ou apenas adjetivos extraordinários, como dizia O. Wilde? A existirem, as grandes emoções, arrebatamentos, mágoas, dores intensas, and so on, são destruídos, aniquilam-se, pela sua própria plenitude e, portanto, não são suportadas por botões. É essa, a meu ver, uma das regras que rege o mundo real e resta-me acrescentar que o senhor Zuckerberg está de acordo comigo."







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