"Parece que Zuckerberg está a estudar a
possibilidade de introduzir um botão “não
gosto” no Facebook. Mas não será um botão que vote contra as atualizações
dos outros porque não é esse o “tipo de
comunidade que queremos”, esclareceu o multimilionário. Será um botão para
expressar “empatia”, “uma maneira rápida de mostrar emoção”.
Mas a empatia parece algo estranho a butonizar: “tem x gostos e y empatias”. Soa estranho, não?
A comunidade que Zuckerberg quer atingiu este Verão os 1,49 mil
milhões de utilizadores. Além do aspeto quantitativo, essa comunidade – o modelo
de negócio do Sr. Zuckerberg – não é, ao contrário do que se lê ao subscrever, “grátis”
e o valor que cada um de nós paga é elevadíssimo: são dados pessoais
(fotografias, textos, vídeos, localização, etc.) e preferências emocionais.
Na ampla e confortável comunidade que
Zuckerberg quer a interação humana reduz-se a uma botonização ingénua
de emoções que, ainda por cima, se querem rápidas,
fugazes, momentâneas, pouco rigorosas e pouco reais. Esta questão cósmica foi
notícia a semana passada e reflete bem os nossos tempos, de igualitarismo
afetivo, de padronização de gostos, de emoções fungíveis, de imediatismo, de
intolerância à reflexão e à contemplação. Existirão ainda emoções verdadeiras
ou apenas adjetivos extraordinários, como dizia O. Wilde? A existirem, as
grandes emoções, arrebatamentos, mágoas, dores intensas, and so on, são destruídos, aniquilam-se, pela sua própria plenitude
e, portanto, não são suportadas por botões. É essa, a meu ver, uma das regras
que rege o mundo real e resta-me acrescentar que o senhor Zuckerberg está de
acordo comigo."
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