Esta semana, para o i,
O jornalismo em Portugal tem uma oportunidade, até agora mal aproveitada, para se salvar. E não, não me refiro à postura corretíssima de José Rodrigues dos Santos, o mais recente alvo do bullying socialista, mas aos Papéis do Panamá. Mas salvar-se de quê? Não é da crise que o setor vive há vários anos: vendas em queda, leitores em fuga, internet, televisão, etc.; refiro-me aos desafios que organizações como a WikiLeaks, peritas em fugas de informação descontroladas, sem filtro ou códigos éticos, colocam ao jornalismo tradicional.
No início de abril estoirava a revelação sobre esquemas de crime e corrupção no mundo inteiro. A preguiça e a ingenuidade determinaram o primeiro alvo a abater: Vladimir Putin, o terrível. Bocejos? Sim, é caso para isso. Seguiu-se o presidente da Islândia, o envolvimento de David Cameron num esquema na empresa do pai, um ministro espanhol, jogadores da bola e realizadores de cinema.
Nas primeiras páginas e nos noticiários insinuaram-se nomes portugueses e avançaram-se acusações genéricas a políticos e jornalistas. Nomes? Rostos? Ricardo Salgado, com certeza. José Sócrates, obviamente. Bocejos, bocejos, bocejos. Rios de tinta correram sobre as tramoias entre bancos e “grandes escritórios de advogados”, sobre os malefícios do capitalismo global, convenientemente esquecendo que na origem do problema está uma fuga de informação ilegal e, provavelmente, criminosa. Rapidamente surgiram os primeiros pedidos de desculpas às vítimas deste processo justicialista criterioso: Alexandre Relvas, Filipe de Botton e Carlos Monteiro. Quanto aos nomes de jornalistas, o crivo do corporativismo, imune a códigos éticos, aquele que Julian Assange rejeita, tem sido habilmente aplicado. Crivo esse que seria facilmente abalado com uma fuga de informação ao estilo Papéis do Panamá.
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