Hoje para o i,
A semana passada, a reflexão patriótico-futebolista foi interrompida pela notícia da nova contratação da Goldman Sachs (GS): Durão Barroso (DB).
As reações fizeram-se sentir de imediato: a GS ajudou, em 2001, a mascarar as contas gregas para o cumprimento do Tratado de Maastricht; DB abandonou a pátria para ir para a Comissão Europeia (CE); ou até o já habitual argumento da promiscuidade entre finanças e política, curiosamente defendido por aqueles que propõem mais interferência do Estado na economia. O PS acusou DB de ter sido presidente da CE “nos piores anos do projeto europeu” - o que é diferente de acusar DB de ter sido o pior presidente da CE. No pot-pourri das indignações faltou uma apreciação objetiva e racional do trabalho, de 35 anos de vida pública de DB, sem condenações perpétuas e livre de preconceitos esquerdistas e puristas. Em 2001, DB nada tinha que ver com a GS nem com a CE, e nem tinha sido primeiro-ministro. Será razoável avaliar a sua decisão de hoje com base numa relação de ontem da GS e, convém dizê-lo, do governo grego, da qual não foi parte? Não creio. Já a “traição” de DB a Portugal recebeu a aprovação de Jorge Sampaio, então Presidente da República, e dos órgãos nacionais do PSD.
É lamentável que alguma esquerda - sobretudo a que não conhece independência da máquina sindical e de interesses corporativos - não compreenda uma decisão profissional e saudável de quem abandona a política para trabalhar no setor privado. Fico satisfeita que o nosso país não seja só de futebolistas nem de políticos que vivem à custa de pensões vitalícias. A ida de DB para a GS, um banco mundial e tão influente, é tão relevante quanto a candidatura de António Guterres à ONU.
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