Esta semana, para o i,
No pós-guerra, a meio do século passado, uma série de líderes europeus sonharam com uma Europa unida, consolidada numa dada moldura institucional, que iria proteger os seus povos das ameaças endógenas de uma História feita de conflitos.
Num mundo eurocêntrico, o “projeto europeu” tinha o seu sentido, a despeito das divergências ideológicas que podemos ou não ter em relação ao modelo do Estado de Bem-Estar que lhe subjazia. Em 1960, o planeta atingiu a mítica marca dos 3 mil milhões de habitantes. Hoje, estamos próximos dos 7 mil milhões - feito da pujança de zonas geográficas que nos são alheias. O mundo deixou há muito de ser eurocêntrico, para ser global, e a marca de cosmopolitismo da Europa, naquilo que ainda possuímos, cada vez menos inspira outros povos. Fechada sobre si própria, a Europa Unida tem vindo a perder relevância, e capacidade de se projetar no mundo. A sua moldura institucional e legal é mais burocrática do que democrática, e os seus valores formais e politicamente corretos, e cada vez menos, substantivamente éticos. Não surpreende por isso que o Reino Unido tenha optado por seguir o seu caminho, e que o ceticismo domine os cidadãos europeus, mesmo aqueles que gostariam de prosseguir um caminho de maior integração. Virada sobre si própria, sem diálogo com o mundo, a Europa é palco de ódio e de incompreensão, vítima de terrorismo, crescentemente capturada pelas suas periferias onde domina a barbárie e a pré-modernidade. Tão preocupados que estávamos em evitar os conflitos europeus, esquecemos que perto de nós havia povos e espaços culturais e económicos para enriquecer, que no vazio, hoje, nos asfixiam.
Sejamos sinceros, todos sabemos que esta União Europeia não é saudável, nem responde aos desafios que os povos europeus hoje enfrentam. O sonho dos pais da Europa é hoje o nosso pesadelo. A Europa, ou se reforma, ou continuará a perder relevância, refém do imobilismo, do pessimismo, e de um devir mundial que não irá parar à espera que encontremos os nossos rumos.
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