Creio que nunca nenhum filme me chocou como o Irreversível (2002). A memória da Monica Bellucci, naquela passagem subterrânea, deitada no chão, violada, atordoada, ainda me apoquenta. Por isso, se o objetivo de Love, de Gaspar Noe, era bater o seu próprio record em relação ao choque, falhou redondamente no meu caso. Naturalmente, não creio ter sido essa a sua intenção.
O que menos gostei em Love nem foram as cenas sexuais, filmadas de modo "despreocupado", para captar "a vida real", imunes a qualquer maquilhagem estética (e depilatória), algo muito presente na série Girls, como a própria Lena Dunham explicou exaustivamente. E até compreendo que uns pares de mamas e uns pénis particularmente destacados, ainda que de forma grotesca e inestética, mereçam as comendas de Cannes. O que não gosto (estou farta) é do tipo de ambiente que é filmado, sonhado por muitos jovens que idealizam a boémia da pós modernidade, muito urban trashy, com duas personagens cool, dois "artistas", seja lá o que isso for sendo certo que inclui muitas drogas e muito sexo. Um deles, Murphy, vive um presente atormentado pela sua, e apenas sua, culpa de várias traições à sua amada Electra, tendo um desses pequenos deslizes levado ao fim da sua relação. Murphy é uma personagem que apenas se expressa verdadeiramente em diálogos bastante ridículos, como aquele, retirado do diário de um puto de 16 anos, em que pergunta a Electra qual é o sentido da vida.
Acompanhamos um casal de jovens deslavados (exceto nalgumas cenas em que Electra aparece com uma gola alta vermelha, o cabelo apanhado, mais aprumada e arranjadinha) a consumir drogas e a fazer sexo, a torto e a direito, aqui e ali, em sítios porcos, corredores sinistros e casas de banho imundas, com uns e com outros, numa vida que vai fluindo sem grandes problemas mas com a certeza e a vontade de ter um filho. O nome do menino, Gaspar, é escolhido depois de mais uma sessão selvagem de sexo e drogas.
Talvez sejam comparáveis, os mais entendidos dirão, mas fazem falta os olhos de Eva Green e a elegância de Garrel, d' Os Sonhadores, e a excentricidade artística (essa sim, tão bem caracterizada e interpretada) de Jemima Kirke, em Girls. Depois, para um filme tão preocupado com a realidade do amor (ou do sexo) não resiste a explorar, ainda que en passant, mais um cliché, retratando o casamento (ou a vida em conjunto, whatever) e o nascimento do primeiro filho como uma fase da vida exclusivamente infeliz, trágica, de isolamento. Fica a impressão de que só o passado de experiências, drogas, sexo, paixão desnorteada e traições, é bom, alegre, feliz e fonte de amor.
Acompanhamos um casal de jovens deslavados (exceto nalgumas cenas em que Electra aparece com uma gola alta vermelha, o cabelo apanhado, mais aprumada e arranjadinha) a consumir drogas e a fazer sexo, a torto e a direito, aqui e ali, em sítios porcos, corredores sinistros e casas de banho imundas, com uns e com outros, numa vida que vai fluindo sem grandes problemas mas com a certeza e a vontade de ter um filho. O nome do menino, Gaspar, é escolhido depois de mais uma sessão selvagem de sexo e drogas.
Talvez sejam comparáveis, os mais entendidos dirão, mas fazem falta os olhos de Eva Green e a elegância de Garrel, d' Os Sonhadores, e a excentricidade artística (essa sim, tão bem caracterizada e interpretada) de Jemima Kirke, em Girls. Depois, para um filme tão preocupado com a realidade do amor (ou do sexo) não resiste a explorar, ainda que en passant, mais um cliché, retratando o casamento (ou a vida em conjunto, whatever) e o nascimento do primeiro filho como uma fase da vida exclusivamente infeliz, trágica, de isolamento. Fica a impressão de que só o passado de experiências, drogas, sexo, paixão desnorteada e traições, é bom, alegre, feliz e fonte de amor.
Enfim, como disse um amigo, "sexo em 2016, francamente, who cares"?
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