terça-feira, 31 de março de 2015

jornal i #16 Hitchcock e Varoufakis

o meu texto de hoje, para o jornal i,


O mundo foi agraciado com mais um suspiro, como que a dar sinais de vida, de um tipo de left wing que se julgava extinto. Esquerdistas radicais de todo o mundo rejubilaram com os seus novos compagnons de route; senhoras, seduzidas pelo dandismo e rebeldia-caviar do sr. Varoufakis, lutaram contra fogachos indomáveis. Mas em Varoufakis nada é novo. O ministro recorda o poema “Fúria e Raiva”, de Sophia: “Com fúria e raiva acuso o demagogo/ que se promove à sombra da palavra/ e da palavra faz poder e jogo/ e transforma as palavras em moeda/ como se fez com o trigo e com a terra”. 

Qualquer mente civilizada, logo prudente, sabia tanto do ministro grego quanto Fontaine, em “Suspicion” do Hitchcock, sabia de Cary Grant. Suspeitava que Varoufakis seria mais um desses socialistas cabotinos que procuram, forçosamente, conciliar uma vontade infantil e narcísica de mudar o mundo e… o mundo; esses que sofrem, coitados, da incapacidade, tipicamente esquerdista e hipócrita, de distinguir discursos de comportamentos, a teoria da prática, vendendo esperanças desmedidas. Mas, como Fontaine, ninguém estava certo. 

E eis que Varoufakis dá razão aos prudentes; não, não me refiro ao cachecol. Nem ao dedo maroto exibido aos alemães. Noticiava o “Daily Mail” que o sr. ministro, embaraçado depois do “caso” “Paris Match”, decidiu que o look anti-austeridade seria mau para o negócio da polis. Vai daí, decide colocar a sua mansão de férias para arrendar por 5 mil euros por semana. 

Tudo isto corresponde a um padrão, superiormente descrito pelo jornalista e escritor brasileiro Rodrigo Constantino, no livro “Esquerda Caviar”, já à venda em Portugal. 

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