domingo, 25 de outubro de 2015

chuva

      "A cabana estava às escuras. Lá dentro havia o som da sua infância, o tamborilar da chuva num telhado que era feito apenas de barrotes e tábuas nuas, sem isolamento nem teto. Associava-o  ao amor da sua mãe, que no tempo próprio havia sido tão previsível quanto a chuva. Acordar a meio da noite e ouvir a chuva ainda a tamborilar como quando tinha adormecido, ouvi-la noite após noite, havia-lhe dado uma sensação tão parecida com a de ser amada que era como se a chuva fosse também amor. A chuva que tamborilava durante o jantar. A chuva que tamborilava enquanto ela fazia os trabalhos de casa, a chuva que tamborilava enquanto a mãe fazia malha. A chuva que tamborilava no Natal com a arvorezinha triste que se conseguia de graça na Noite de Natal. A chuva que tamborilava enquanto abria os presentes que a mãe tinha comprado com o dinheiro posto de parte durante o outono inteiro. 
      Sentou-se por algum tempo no escuro e ao frio, à mesa da cozinha, ouvindo a chuva e sentindo-se comovida. Depois acendeu uma luz e abriu uma garrafa e ateou o lume no fogão e lenha. A chuva caia sem parar."

Jonathan Frazen, Purity, p. 677

Sem comentários:

Enviar um comentário