A
leitura da segunda parte de “Purity”, de Jonathan Frazen, um relato sobre a
juventude de Andreas Wolf intitulado “A República do Mau Gosto”, provocou-me um
déjà vu literário que começa em Nabokov, passa por Kundera, Dostoievski e
termina de forma triunfal em Mário Vargas Llosa. No relato, Wolf apresenta
características comuns, por exemplo, às personagens de “Bend Sinister” ou “The
Unbearable Lightnes of Being”, críticas do projeto socialista, ou d’ “Os
Cadernos de D. Rigoberto”, de Vargas Llosa.
Andreas,
jovem habitante da República Democrática Alemã, um predador natural, como é
insinuado pelo seu emblemático apelido à la Dickens, personaliza uma das
críticas de Purity ao comunismo: a sua tentativa de negação de um “lobo”
na Humanidade, de um jovem que constrói a sua individualidade, ainda que
censurável, que pensa e age por conta própria, sem “pensar no coletivo”, sem
suprimir os seus “desejos egoístas” (e, diga-se, excessivamente carnais) e, por
isso, sem colocar à frente os “objetivos do coletivo”.
Em “Purity”
subjaz inequivocamente uma ideia de individualismo exacerbado, cru e
violento, porventura compreensível como antídoto contra a nefasta experiência
coletivista de que Wolf é vítima. Ainda assim, quando percebemos que, num mundo
pós 1989, Wolf é um foragido, apesar de famoso pelas suas provocações, talvez
Frazen nos queira dizer que, ainda hoje o mundo é um espaço hostil à
individualidade, que é fonte de valor para si mesma, nesta vida que se
consulta, se costura, surda, sonora, insana, entre um prefácio e um
colofão.
Ontem, para o jornal i.
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