sábado, 23 de janeiro de 2021

Ferrante, novamente

 Uma noite a minha mãe disse-me:

"O teu pai é mais jovem do que tu. Tu estás a tornar-te adulta, e ele permaneceu criança. Ficará sempre criança, uma criança extraordinariamente inteligente, hipnotizada pelos seus jogos. Se não o vigiarmos, magoa-se. Deveria tê-lo percebido quando era rapariga, mas nessa altura parecia-me um homem feito."

Tinha-se enganado, e no entanto conservava firme o seu amor. Olhei-a com afeto. Também eu queria amar assim, mas não um homem que não o merecesse. 

Elena Ferrante, A vida mentirosa dos adultos, Relógio D'água, página 180.