domingo, 27 de maio de 2018

Maio de 68


"Não por acaso se associa quase sempre um romantismo juvenil ao Maio de 68. E, tudo bem visto e ponderado, foi precisamente esta a herança que ficou e perdurou, exacerbada pelo aggiornamento pós-modernista, que não passa de um hiper-romantismo que entronizou como valor supremo os direitos da soberania do “Eu”: a ditadura do subjectivismo radical; o sujeito como critério de tudo, da verdade e da mentira, do belo e do feio, do bem e do mal. Maio de 68 não tinha uma agenda política definida e coerente. Mas toda a gente, ou muita gente, tinha uma agenda pessoal pressurosa: libertar o “Eu” das regras e convenções que o silenciavam e que, silenciando, matavam. O nosso “Eu”, reduzido a um sussurro clandestino, ora lírico, ora gemente, precisava de ar para respirar e gritar alto as suas dores, e as suas exigências. (...)".

"Estivemos lá, mas esse é um mundo que está a desaparecer à nossa frente", Maria de Fátima Bonifácio, aqui.

lenda de infantilidade

- Não sabes do teu irmão? Que é dele? - Falou com a boca cheia, a disfarçar a insistência; estava coradinha e bonita.
- Não querem lá ver, está tola?! - Alarmou-se, a Maria José. O irmão! O seu irmão! Nutria por ele um complexo sentimento; era carinho, maternal cuidado; era um tanto incestuoso ciúme; era sobretudo desejo de domínio. O seu irmão, querido, aborrecido irmão! E tratava-o como a criança impertinente, preocupava-se em não deixar esmorecer essa lenda de infantilidade, exibia os seus deveres de irmã mais velha (...).

Agustina Bessa-Luís, Deuses de barro, p. 46.

domingo, 6 de maio de 2018

Com a Internet (...)

temos realmente a ilusão de sermos pessoas únicas e de sermos capazes de gerir a superabundância de pesquisa do sentido da vida."

Zygmunt Bauman e Thomas Leoncini, Nados Líquidos. Transformações do terceiro milénio, p. 59