sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

saudades do avô

Perguntei-te se sentias saudades do avô que morreu há mais de 20 anos. Sem grandes hesitações  ou justificações disseste-me que não. Tu não reparaste Maria Emilia, mas quase me vieram as lágrimas aos olhos. É que a tua resposta deu-me alento e, sobretudo, sossego interior: afinal esse tipo de saudades, provocadas pela morte, não corresponde a um desgosto perene.

O que eu não te contei foi que com (demasiada) frequência encaro a minha relação com o R. pelo prisma do futuro e fico assustada com o sofrimento que vai tomar conta de mim se ele morrer primeiro. Tenho plena consciência do quão retorcido e pouco saudável é este exercício, mas surge-me como incontrolável sempre que, de alguma forma, até em coisas menores, a nossa diferença de idade se manifesta. Pelo menos agora já sei: serão precisos uns 20 anos (quase a nossa diferença de idade) para deixar de ter saudades do R.. O que me dá algum conforto é a hipótese de virmos a ter filhos para estreitar a solidão e, sobretudo, gozar de outros bocadinhos dele durante esse período de declínio.

Mas será mesmo assim, Avó? Ou esta é a resposta de uma mãe a dobrar que, com os poderes transcendentes de um ser humano com 103 anos, consegue ler as almas e inquietações mais obscuras através dos olhos dos netos e dos filhos?


domingo, 31 de dezembro de 2017

a perda do que poderia ter sido

"Blaine precisava do que ela não era capaz de dar e ela precisava do que ele não era capaz de dar e assim ela sofria por isso, pela perda do que poderia ter sido".


americanah, Chisnada Ngozi Adichie, p. 19