"Sou beirão, sou beirão!"
dizia ele
com o peito cheio
e um caneco na mão.
"Oh!,
isso são atoardas
de um falso beirão"
respondi-lhe eu
num safanão
"Sim, é verdade,
todos sabemos que
o que faz um verdadeiro beirão
é a sua educação
no momento da saudação:
ao cumprimentar
beijar sempre as duas bochechas das Senhoras
em qualquer lugar,
em qualquer ocasião,
estando na sua terra ou não.
Sim, beirão que é beirão espeta-me dois beijos na cara,
com sofreguidão,
em Lisboa ou não.
Vá, dá cá dois beijinhos,
para eu ver se em ti há ou não um beirão".
[escrito depois de uma conversa com um ilustre beirão algures esta semana]
quinta-feira, 4 de outubro de 2018
domingo, 30 de setembro de 2018
a transformação
"Durante anos, tinha bastado ser inteligente. Tudo o que isso significava, ao início, era que se era capaz de responder ao tipo de perguntas que os professores faziam. Todo o mundo parecia ser baseado em factos, o que fora um alívio para Greer, que era capaz de apresentar factos com grande facilidade, como um mágico a tirar moedas de trás de qualquer orelha disponível. Os factos apareciam diante de si e depois ela limitava-se a dar-lhes voz, tornando-se assim conhecida como a mais esperta da turma.
Mais tarde, quando já não eram só factos o requerido, tudo se tornou mais difícil para ela. Ter de se expor - as suas opiniões, a sua essência, a substância particular que revolvia dentro de uma pessoa e a tornava quem era - tanto a exauria como assustava (...)".
Meg Wolitzer, A persuasão feminina, Teorema, 2018, p. 16.
sábado, 29 de setembro de 2018
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
as virtudes de Churchill
Passando em revista a "lista de debacles" que Boris Johnson enuncia sobre Churchill no seu livro "Fator Churchill", da qual constam, entre outros momentos históricos, a crise do trono provocada pelo coração do Rei Eduardo VIII ou o erro de avaliação de Churchill sobre a Índia, é verdadeiramente notável que Churchill tenha sobrevivido a todos estes episódios para vir a ser o PM que, mais tarde, salvou a Europa. Igualmente notável é a descrição de Boris Johnson das virtudes que imputa ao seu (ao nosso?) herói e que lhe terão valido nas dificuldades:
"Que nos diz ela [a tal lista] do caráter de Winston Churchill? Com toda a evidência diz-nos que tinha justamente isso, aquilo a que se chama caráter. Qualquer um desses fiascos, só por si, teria arruinado a carreira de um político normal. Que Churchill possa ter sobrevivido é um tributo à sua capacidade de recuperação, a alguma substância tipo Kevlar com que resguardou o ego e o ânimo. Ajudou-o o facto de ser extrovertido, de conseguir exprimir-se tão naturalmente. Não interiorizou as suas derrotas e, com a exceção de Gallipoli, não roeu as entranhas recriminando-se. Não permitiu que os abundantes e pitorescos desastres alterassem fundamentalmente a maneira como se via. E é um reflexo da preguiça natural dos seres humanos que os outros tendam a julgar-nos sobretudo segundo o juízo que fazemos de nós próprios."
O Fator Churchill. Como um homem fez história, Boris Jonhson, D. Quixote, 2014, p. 235.
"Capacidade de recuperação" - não será mesmo isto que faz de qualquer ser humano um herói?
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
segunda-feira, 27 de agosto de 2018
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