quarta-feira, 30 de março de 2016

Jornal i #57 - Corrupção no Brasil: um mal menor


Com atraso, o texto para o i da semana passada:

No momento em que escrevo, Lula já não é ministro do país que deu o samba ao mundo. Mais uma vez. Enquanto o nosso governo se preocupa em desfazer as medidas do governo PàF, sem apresentar alternativas (veja-se o caso do fim dos exames), do outro lado do Atlântico, o princípio da separação de poderes deu lugar ao princípio da confrontação de poderes. A nomeação de Lula como ministro-chefe da Casa Civil, em substituição de Jaques Wagner, é isso mesmo: uma tentativa de o poder executivo manifestar a sua força sobre o poder judicial. Lamentavelmente, a presidenta não terá lido Montesquieu, estando demasiado ocupada na luta armada enquanto membro do Comando de Libertação Nacional e da Vanguarda Armada Revolucionária, mas está lá. No capítulo iv, livro vi, sobre liberdade política, diz o espírito das leis: “C’est une expérience éternelle que tout homme qui a du pouvoir est porté à en abuser (...) Pour qu’on ne puisse abuser du pouvoir, il faut que, par la disposition des choses, le pouvoir arrête le pouvoir.”


Face a isto, o PCP, partido que sustenta o atual governo, com a tradicional argúcia acrobática argumentativa a que já nos vem habituando, justifica a convulsão brasileira, sem qualquer alusão à corrupção (um mal menor, imagino...), com a “crise do capitalismo” (implementado por Dilma ou por Lula, já agora?) e condena a operação de desestabilização e de “cariz golpista” que está a decorrer no Brasil, manifestando-se solidário “com as forças progressistas brasileiras”.

Portanto, o PCP não reconhece vícios na nomeação de Lula da Silva, não reconhece a ordem judicial a decretar a prisão preventiva do mesmo e entende que as manifestações da sociedade civil contra o governo, organizadas em dias de descanso (domingos, em regra) para não causar transtorno ao trabalhador, são de “cariz golpista”. Pergunto, então, ao PCP, se o capitalismo está em crise no Brasil, qual é o modelo a seguir? O soviético, o venezuelano, o albanês, o norte-coreano? Ou haverá outro exemplo de sucesso?

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