terça-feira, 19 de maio de 2015

jornal i #23 Constança

      Hoje, para o jornal i

      Passaram 5 anos, Constança entra na universidade. Tem hoje 20 anos e prepara-se para uma entrevista que a ajudará a pagar o seu curso. Sonha ser professora. Detesta “filmes de ação”, corre durante a alvorada três vezes por semana, organiza com etiquetas os tupperwares e duas vezes por semana troca as flores do beiral da janela. Vota à direita e diz, frequentemente que, um dia, quando tiver uma filha, quer chamar-lhe Luísa, em homenagem à sua mãe.
   
      Chega o momento da entrevista, entra nervosa, mas a sorrir para o mundo. A gerente de recursos humanos, do hipermercado, olha para aquele rosto fresco e recorda-se do vídeo “viral” que correu Portugal em 2015 e que também ela partilhou no facebook.  "Foi você?" Atira a entrevistadora de unha vermelha e rabo-de-cavalo loiro. Com a testa franzida e a boca entreaberta, Constança responde que sim. Seguem-se umas perguntas de circunstância e Constança é avisada de que voltarão a contactá-la. Com os olhos ardendo e um aperto no peito, vai-se embora. 



      Noutro tempo, a cena a que assistimos naquele vídeo “viral” ficaria guardada nalguma gaveta da memória de meia dúzia de pessoas e, com o tempo, desvanecia, como feliz ou infelizmente, tudo desvanece. Desde o início dos tempos, para nós humanos, esquecer tem sido a norma e recordar a exceção.  Tudo mudou com as possibilidades da memória digital que eterniza uma Constança que já não existe cuja identidade foi construindo e evoluindo ao longo dos tempos. Constança será, hoje, diferente de si mesma há 5 anos. E isso, caro leitor, deve ser respeitado por todos nós.

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