terça-feira, 21 de julho de 2015

Julieta Boldrini no autocarro

Algures perto do Parlamento, em Lisboa, entra uma senhora na casa dos 60, com cabelo loiro apanhado, make up pesada e roupas esvoaçantes. Rosto estreito atormentado por um olhar ávido que constantemente filtra factos à sua volta, procurando "a razão de ser das coisas". Repleta de uma energia quase irracional, vai tagarelando com o motorista de forma ininterrupta, mas sempre teatral e excessiva, por vezes exagerando nos modos bruscos, imprimindo-lhes demasiada dinâmica.

Apesar das circunstâncias, imagino-a como Julieta Boldrini, da classe média alta, a viver numa casa de bonecas, cercada de empregados e subserviente a um marido que, contudo, a obriga a andar de autocarro para não perder o sentido da realidade.

O autocarro pára. Julieta sai e entra num sítio que tem uma placa "The Decadente", como que obedecendo aos sussurros de Laura.


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