quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Jornal i #37 O individualismo cru de Jonathan Frazen


Andreas, jovem habitante da República Democrática Alemã, um predador natural, como é insinuado pelo seu emblemático apelido à la Dickens, personaliza uma das críticas de Purity ao comunismo: a sua tentativa de negação de um “lobo” na Humanidade, de um jovem que constrói a sua individualidade, ainda que censurável, que pensa e age por conta própria, sem “pensar no coletivo”, sem suprimir os seus “desejos egoístas” (e, diga-se, excessivamente carnais) e, por isso, sem colocar à frente os “objetivos do coletivo”. 


Em “Purity” subjaz inequivocamente uma ideia de individualismo exacerbado, cru e violento, porventura compreensível como antídoto contra a nefasta experiência coletivista de que Wolf é vítima. Ainda assim, quando percebemos que, num mundo pós 1989, Wolf é um foragido, apesar de famoso pelas suas provocações, talvez Frazen nos queira dizer que, ainda hoje o mundo é um espaço hostil à individualidade, que é fonte de valor para si mesma, nesta vida que se consulta, se costura, surda, sonora, insana, entre um prefácio e um colofão. 

Ontem, para o jornal i.

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