quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Jornal i # 42 - A mordaça de Sócrates


Na terça-feira, para o i, 

Ilusão e mentira são criadas através da manipulação da realidade, técnica que José Sócrates (JS) domina como poucos atores políticos nacionais. Projetos esquálidos na Guarda, Caso Cova da Beira, Universidade Independente, Freeport, Face Oculta (FO), Operação Marquês, Monte Branco, desde meados dos anos 80 aconteceu de tudo um pouco na vida de JS. Não sendo território virgem, recordando o caso do Jornal Sol no âmbito do processo FO, a providência cautelar interposta pela defesa de JS sobre o grupo Cofina, não deixa de ser mais uma nódoa neste curriculum que chegou à Sobornne [a prova fumegante que o ensino superior já não é o que era].

Juridicamente, a decisão é injustificada e desproporcional dado o seu âmbito demasiado extenso e, por isso, indefinido: desde logo, o conteúdo proíbe a publicação de qualquer notícia sobre o processo. Por outro lado, a aplicação da decisão abrange todos (e só) os jornais do grupo Cofina o que, evidentemente, choca com o seu direito a informar.

Ninguém defende a reprodução de escutas do âmbito privado. Não encontro qualquer valor em ouvir JS a pedir à mãezinha que lhe ofereça dois bilhetes para o "50 Sombras" ou que, pelo Natal, lhe traga aquelas meias quentes que usava em miúdo na serra. O segredo de justiça deve ser respeitado, as informações que resultam da sua violação num mundo ideal não devem ser divulgadas. Mas, atendendo aos crimes imputados, praticados durante o seu mandato como Primeiro-Ministro, o interesse público no conhecimento dos factos surge como inequívoco.

Voltando à manipulação da realidade, um jornal tem por missão a revelação de factos da forma mais clara possível e, com eles, abrir janelas de oportunidade de visão da realidade despistando a fantasia interior da convicção mais oportuna. Dizia JS, em Vila Velha de Ródão, “o que caracteriza o Estado de direito democrático, não é o que ele pode fazer, mas o que ele não pode fazer”. Estou de acordo, por isso é que esta censura prévia, com o aval da justiça, é vergonhosa. Sendo duplamente grave em face do silêncio tanto da “imprensa de referência" que, em janeiro último, imprimiu eloquentes editoriais sobre liberdade de informação, como de uma população que se diz Charlie. Entretanto, há um governo para derrubar e uma frente unida para eleger, a defesa da liberdade pode aguardar.

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