quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

num autocarro algures em Lisboa

O cenário idílico: um autocarro, ao final de um dia cinzentão, a atafulhar de gente. Uma mochila às costas, com cerca de 1000 kg no interior (um ligeiro exagero, note-se), num exigente jogo de equilíbrio entre corpos cansados (e alguns suados) que se abalançam uns contra os outros e contra o mundo, depois de um dia de trabalho, agarrada à barra superior pela minha débil mão esquerda, viro a cara para deixar cair os olhos (mas, juro, a minha vontade era deixar-lhe cair em cima a mochila) numa senhora que, depois de muito me pisar várias vezes e de me dar sucessivos encontrões, interrompe uma discussão pelo seu telemóvel com o "mor", abre a boca e balbucia: menina, está a magoar-me MUITO no braço. Ao que eu respondi, não sei bem com que forças, com a paciência equilibrada nas profundezas da minha bondade, estou a fazer os possíveis para me agarrar, minha senhora. Mas...  Fiquei-me pelo mas quando percebi que a indivídua nem sequer se dignou olhar para mim para ouvir a minha explicação (inexplicável a não ser pelas circunstâncias a que todos estávamos sujeitos) e continuou no seu exercício de refilanço com o "mor", muito mais importante, com toda a certeza do Mundo, do Além, alheio a todo o tipo de circunstancialismo. 

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